Fomos lado-a-lado para mapear a segunda termal. A tirada parecia render bem, quase não perdíamos. Mas a historia começava a mudar quando chegávamos na pedreira. Martin começava a afundar muito e eu, que voava mais aberto, na direita e para trás, resolvi esperar um pouco antes de avançar. Sabia que se fosse em frente naquele momento, afundaria tudo. Com paciência, esperei no morro da salvação, aguardando um alinhamento melhor, antes de tirar para Alpercata.
Esta espera de 10 minutos rendeu mais uma base para a tirada.
Martin que corria mais com o voo estava longe, mas consequentemente muito baixo sobre a Alpercata.
Na Alpercata, eu afundava muito e via o Martin ralando para subir os morrotes a direita da estrada. Como estava mais alto, joguei na esquerda, no contra vento. Cheguei bem baixo procurando por um pouso. Foi quando um “uruba” me salvou, mapeando uma termal; 1500m, base novamente. Para minha alegria, agora se formava um
cloud bem a minha frente, do lado esquerdo da estrada.
Não deu outra, pé em baixo, fui em frente, voando sempre alto sobre a cordilheira. Parecia ter entrado no ritmo. Quando saía de uma base, via outra formando logo a frete. Sem ninguém por perto, aproveitei para ganhar mais um metros por base - me refrescando um pouco – indo a 1800m em 4 bases, até chegar a Engenheiro Caldas.
Chegando na cidade, apesar de cada vez mais baixo, estava muito feliz, (já era o dobro de quilômetros do dia anterior). Como não via nada a minha frente, resolvi jogar para cima da cidade cruzando a estrada, onde avistava melhores pousos. Mas aquele era o meu dia. Procurando pouso, mais uma vez, um urubu salvou meu voo; dessa vez fui rápido até os 1800m, com o ar fresco no rosto e as linhas e tirantes úmidos. Para frente agora, era só alegria. Já sabia que tinha garantido os 50km no L/D e o que viesse a mais, seria lucro.
Continuei a direita da BR116 e analisando, percebia que a teoria de mudar de alinhamento fazendo as tiradas a 45° funcionava. Eu saia rápido das descendentes e tinha melhores chances de pegar um outro
cloud, sem perder muito. Seguindo em frente fiz mais duas boas bases. Ao sair da segunda, vi que a altura de 200m do solo, em relação ao nível do mar, passava a partir desse ponto, para algo próximo a 550m. O teto então estava com menos 350m de desnível. Como se não bastasse, as termais eram cada vez mais fracas, pois já eram quase 17h. Novamente baixo, uma pequena cidade a esquerda da BR116 se aproximava.
Depois de mais uma termal que me largou nos 1770m, eu já podia ver a cidade de Dom Caváti ao meu pé. Estiquei-me ao máximo na selete, acelerei apenas 1/3 e o “parapa” rendeu como nunca.
Cheguei a Dom Caváti sem perder quase nada. Comecei a cruzar a cidade para aumentar a quilometragem. De repente o vario deu sinal de vida no azul. Rodei bem aberto para achar o centro dela, mas não apitava mais do que 1m/s. A uma hora dessas do dia, estava ótimo. Foi ai que me dei conta que o Morro do Ibituruna, de onde tinha decolado, já sumia na nevoa do horizonte.
No GPS mais uma cidade a frente, Inhapim. Não consegui vê-la no visual pois a geografia da região, eram só de morrinhos. Fui embora, deixando Dom Cavati para trás.
No cruzamento da BR116 com a estrada que leva para Ipu, consegui pegar mais uma fraca. Derivei nela na direção da estrada. Eu sabia que essa era a última do dia, pois já eram 17:30hrs. O céu completamente azul. Comecei a ver Inhapim e imaginar que seria possível chegar no L/D.
Comecei a voar exatamente sobre a estrada procurando pelo pouso mais seguro, que ali, seria no topo de um dos muitos morrinhos. O morrinho escolhido foi um na entrada da cidade, atrás de um posto de gasolina (Gentil).
Ao pousar peguei o celular, eram 17:50h. Olhei para o céu e pensei: hoje aproveitei até o final. O sinal do telefone estava no máximo, que sorte. Liguei para Alex Brasil. Quem me atendeu foi a Grazi, esposa do Paulo. Disse a ela que tinha acabado de pousar em Inhapim. Quase 4 horas de voo. Quando o Alex escutou, gritou muito. Parecia mais feliz do que eu naquele momento.
Dobrei o minha “Máquina Voadora” e desci ate um barzinho em Inhapim onde esperava pelo grande resgate de Alex Brasil e Paulo, no carro do Éden.